sábado, 18 de agosto de 2012

A SAGA



Sempre assim. Não faz diferença de quem esteja no poder, que regime comanda o país, que partido... o conteúdo é sempre o mesmo. Fui professora universitária por 30 anos. A saga é sempre a mesma. E não são só das Universidades Federais. São as públicas, em geral. Nossa Estadual está lutando há anos, no vermelho de suas forças...

Na juventude, eu era mais aguerrida. Confiava mais na minha forma mais revolucionária de ser. Mas o que vale mesmo não é o jeito e, sim, o objetivo: tudo mudando, a educação também muda. Há sonhos, há lutas. Políticas, em geral, setoriais, como as nossas. Assembléias. Greves.

Aliás, no meu ponto de vista, professor NUNCA fez greve. É só jeito de falar. Greve pára tudo e, quando volta, não se repõe trabalho. Professor sempre repôs as aulas. Nunca fez greve, de fato...

Mas eu estive lá, nas “diretas já”, no asfalto da Avenida Presidente Vargas, uniformizada “comme Il faut”,



acreditando nas mudanças da educação. Que o país mudaria, todos sabíamos, para o bem e para o mal... mas meu “peito professor” clamava por um povo que pudesse pensar melhor por si próprio e, embora isso atuasse diretamente em todas as outras benfeitorias intelectuais, técnicas e científicas, por tabela faria um povo mais consciente de si mesmo.

Por acreditar profundamente em tudo isso, eu estive nas greves, nas “diretas já”, nos discursos de formatura, inquietantemente guerreira, como paraninfa, como patrona, como convidada especial, não deixando a oportunidade escapar:



Eu estava lá porque sempre acreditei que teríamos voz forte suficiente para promover as mudanças de base.

Eu estive lá.

E, embora veja que a luta continua (e continuará sempre pois professor “de alma” é povo teimoso, irrequieto, idealista, consciente), vez por outra me pego pensativa e, confesso... desalentada.

Ésquilo, trágico grego, na peça “Agamemnon”, coloca suas palavras na voz do coro:

“A educação forma um povo fácil de governar, difícil de dominar, impossível de escravizar.”

Para todos os efeitos, se a função é massificar, vamos combinar que estão fazendo um ótimo trabalho há décadas... não importa quem esteja no poder, a que partido ou regime pertençam... estão fazendo um trabalho para ninguém "botar defeito". Às vezes penso que não pode ficar pior do que está. Mas pode. Ainda há tempo. Sempre há, mas urge a mudança.

Se você que me lê, está aborrecido(a) com as chamadas “greves” de professores, pare e pense um pouco. Não estamos lutando em vão. E nem é só por salário, embora o nosso seja uma vergonha. Lutamos por mais do que isso. Lutamos por nós todos, lutamos por você, lutamos por nosso povo.

E creia: professor “de alma” é assim. Luta sempre, cada um a seu jeito, de todas as formas, tentando alcançar a conscientização, por todos os meios. Agora, meu jeito é assim.

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6 comentários:

José Maria Alves Nunes disse...

A conscientização é um trabalho de formiguinha. Infelizmente, quando andamos três passos rumo ao progresso, o poder público anda seis em retrocesso. É muito desigual esta luta.
Estaremos condenados para sempre a viver desta maneira? Assim não tem ânimo que resista.
Parabéns! Belo texto.

Anônimo disse...

Pois é, minha amiga, greve de professor é sempre uma dureza. No momento, as coisas estão bem difíceis na Uerj. E podemos atribuir muito dessa dificuldade ao senhor reitor e seus seguidores. Por exemplo, conselhos superiores parecem não existir mais: o reitor não os convoca, não dá posse aos conselheiros eleitos em junho e, ainda por cima, há prof (e tb funcionário) que acha isso tudo muito natural!!!
bjs, décio

Eulalia disse...

Pois é... desde mil novecentos e vovô criança que essa luta existe... e dessa forma...

Será que estamos usando os instrumentos certos ou eles é que sabem como torná-los inúteis?

Esse tem sido meu questionamento, no momento...

E, por via das duvidas, pelo menos, não deixo de usar os que tenho, como este blog, por exemplo...

Sei lá... acho que, enquanto não soubermos como sensibilizar o povo, para que fique ao nosso lado, vai ser difícil conquistar a atenção dos que estão acima...

Mas não sei como fazer isso funcionar, se é que estou certa...

Celina disse...

Ah Eulália... A quem interessa a educação? Um povo educado, certamente lutaria mais, seria menos conformado. Aqui as pessoas se contentam com a redução de IPI para comprar carro e geladeira no crediário (prara ficar devendo muito depois). Educação por aqui não é visto como investimento.

Carlos Alberto disse...

Uma política de transformação na educação, deixaria o atual governo apavorado, pois na verdade nunca existiu um plano nesse sentido. Também me sinto assustado, pois desconheço a verdadeira intenção dessa gente, que insiste em manter nosso povo em total ignorância. O governo tem um projeto sim, mas não inclui todos. Se preocupa mais em incutir falsas idéias.

Eulalia disse...

É... mas professor não tem jeito.

Seu objetivo é mesmo educar. Se tem a profissão no coração, vai viver enfrentando isso...